Olodumaré
decidiu distribuir seus bens. Disse a seus filhos que se reunissem e
repartissem entre si as riquezas do mundo. Ogum, Exú, Orixá Ocô, Xangô, Xapanã
e os outros Orixás deveriam dividir os poderes e mistérios sobre as coisas na
Terra.
Num dia em
que Xapanã estava ausente, os demais se reuniram e fizeram a partilha,
dividindo todos os poderes entre eles, não deixando nada de valor para Xapanã.
Um ficou com o trovão, o outro recebeu as matas, outro quis os metais, outro
ganhou o mar. Escolheram o ouro, o raio, o arco íris; levaram a chuva, os
campos cultivados, os rios.
Tudo foi
distribuído entre eles, cada coisa com seus segredos, cada riqueza com o seu
mistério. A única coisa que sobrou sem dono, desprezada, foi a peste. Ao
voltar, Xapanã não encontrou nada que lhe interessasse, só sobrara a peste, que
ninguém quisera.
Xapanã
guardou a peste para si, mas não se conformou com o golpe dos irmãos. Foi
procurar Orunmilá, que lhe ensinou a fazer sacrifícios, para que seu enjeitado
poder fosse maior que o do outros. Xapanã fez sacrifícios e aguardou.
Um dia, uma
doença muito contagiosa começou a espalhar-se pelo mundo. Era a varíola. O
povo, desesperado, fazia sacrifícios para todos os Orixás, mas nenhum deles
podia ajudar. A varíola não poupava ninguém, era uma mortandade. Cidades, vilas
e povoados ficavam vazios, já não havia espaço nos cemitérios para tantos
mortos. O povo foi consultar Orunmilá para saber o que fazer. Ele explicou que
a epidemia acontecia porque Xapanã estava revoltado, por ter sido passado para
trás pelos irmãos. Orunmilá mandou fazer oferendas para Xapanã. Só ele poderia
ajudá-los a conter a varíola, pois só ele tinha o poder sobre as pestes, só ele
sabia os segredos das doenças.
Tinha sido
essa sua única herança. Todos pediram proteção a Xapanã e sacrifícios foram
realizados em sua homenagem. A epidemia foi vencida. Xapanã então era
respeitado por todos. Seu poder era infinito, o maior de todos os poderes.
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